NOVE MESES
Assim como ocorreria com todos os demais segmentos da indústria europeia, a velocidade das transformações no sistema de produção editorial aumentaria exponencialmente com o avanço da Revolução Industrial. Mas se as fábricas elevaram os dividendos a patamares inimagináveis, também provocaram efeitos colaterais da mesma ordem de grandeza. Não foi coincidência, portanto, o surgimento de uma reação ao lado mais sombrio da industrialização: as private presses. Oriundas da Inglaterra do final do século XIX e inseridas naquilo que se convencionou chamar de Arts and Crafts — movimento com bases mais ideológicas do que formais cuja principal bandeira defendia o trabalho como fruto direto da mão humana —, os exemplares produzidos dentro de seus moldes gerariam desdobramentos perceptíveis nas diversas maneiras de se explorar as possibilidades gráficas do livro a partir do século XX.
A maioria das privates presses transliterava sua postura contra o mundo industrial em soluções formais cuja singularidade parecia advir de um mesmo ponto de origem, bastante vinculado à Idade Média (ou, ao menos, a uma idealização dela). Houveram, no entanto, algumas poucas exceções que trilharam caminhos bem sui generis. A mais emblemática delas foi, sem dúvida, a Doves Press, fruto da improbabilíssima união entre o guru tipográfico da época, o circunspecto Emery Walker, e o borbulhante Thomas James Cobden-Sanderson. A sociedade logo desandou numa disputa judicial que se arrastaria por décadas — e que terminaria numa das mais folcóricas arengas da história da tipografia.
“Nove meses” foi publicado pela Lote 42 em 2018.
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