Libreto para ópera Madama Butterfly

A montagem da célebre ópera de Giacomo Puccini, encenada em março de 2024 no Theatro Municipal de São Paulo, ressalta o declínio social e o empobrecimento que ocorrem na vida de Cio-cio-san, para dar visibilidade aos aspectos socioculturais que provocam o crescente sofrimento da protagonista e o desfecho trágico da história, bem como o machismo que ela sofre de ambas as culturas – a japonesa e a americana – e o racismo explícito de Pinkerton, para quem o casamento nada mais é do que um simulacro.

A identidade, portanto, mescla as duas dimensões presentes no espetáculo: o caráter atemporal do clássico de Puccini e a relevância de temas ainda vivo no presente, o machismo e o racismo. Isso é feito primordialmente através do traço manual do pincel, que aglutina duas referências distintas, porém essenciais ao enredo de Madama Butterfly: o Japão onde se passa a história e o despedaçamento progressivo da personagem e do mundo ao seu redor. Esse traço não surge apenas nas ilustrações, mas se espalha pela tipografia manuscrita dos títulos e por grafismos que “se despedaçam” ao longo das páginas.

Uma solução gráfica que se apresenta essencialmente contemporânea sem abrir mão de fazer referência (e reverência) às suas muitas dimensões do passado.